terça-feira, maio 9

Paridade pouco paritária

Paridade: s.f. qualidade de par ou igual; parecença, semelhança, estado de câmbio ao par; equivalência. A propósito da dita paridade, há quem defenda a ideia de que o Estado pode, através de um decreto, regular a sociedade tornando-a perfeita. Foi o caso da recente aprovação de um Projecto de Lei, pela maioria socialista e pelo BE, que «permite» o acesso das mulheres às listas políticas, nomeadamente nas eleições Legislativas, Europeias e Autárquicas, com uma representatividade de 33,3% em cada lista. Nada de mais errado e humilhante para as mulheres. Num mundo perfeito, a representação política corresponderia à representação sociológica, mas esse mundo não existe. Não existe porque, infelizmente para nós, a nossa sociedade ainda vê, apenas, a mulher no seu lado «maternal». Há apenas trinta anos atrás, uma grande maioria das mulheres não trabalhavam sequer, poucas frequentavam a faculdade, muito menos ainda tinham lugares de destaque. Agora, verificamos um número crescente de mulheres nas faculdades (por vezes superiores aos dos homens), em cargos superiores de direcção, nas polícias, nos ramos das Forças Armadas e também na política. São variadíssimos os casos de sucesso de mulheres na sociedade. São, comparativamente, poucos? Sim, mas a sociedade encarregar-se-á de as colocar onde merecem, por mérito e capacidade própria, não por uma qualquer quota que pode dar origem a casos nefastos. Quem garante que para cumprir a quota não são incluídas mulheres incompetentes nas listas, tirando um lugar a um homem competente, e no extremo, homossexual? Quem garante os direitos dos restantes cidadãos e minorias? E depois, se a ideia é a existência de uma paridade, - igualdade, portanto – porquê 33,3% e não 50%? O problema está na sociedade, na forma como ainda nos comportamos. Afinal, a mulher, no fim de um dia de trabalho extenuante, e independentemente do facto de ter como profissão operária fabril, juíza, directora-geral, ministra ou presidente da república, tem que chegar a casa e ainda fazer o jantar e meter os filhos na cama. E por que não a preocupação com as mulheres quando elas ganham menos do que eles nas mesmas circunstâncias de trabalho, quando num passado recente algumas empresas as discriminavam no recrutamento, obstaculizando com critérios pouco claros. Depois, há coisas que não percebo. O secretário-geral do partido da maioria que apoia o governo e primeiro-ministro desse, como proponente do Projecto de Lei, tem apenas duas mulheres como ministras. Sintomático, não?
[nº 1 do Expresso de Felgueiras]

7 comentários:

Sérgio Martins disse...

Olá Jorge.
Aqui estamos totalmente em desacordo. As mulheres merecem estar ao lado (não atrás) dos homens em tudo na vida, mas não através de quotas pré-determinadas (senão teria que ser 50% e não 33% ou que raio de paridade (igualdade) é essa?). As mulheres por mérito próprio chegam lá. Já estão presentes um pouco por todo o lado, e também nos melhores e mais elevados cargos. Mas existe o problema cultural. A mulher tem que tratar de todo o «resto».. isso é que tem que ser combatido.

JSP disse...

Caros Amigos:
A conversa é muito linda mas não deixa de ser da treta.
33% Não é o ideal com certeza mas é um começo.
Na verdade as acções significam muito mais do que as simples palavras.
E a verdade é que o Bloco pratica a paridade. Veja-se o Parlamento: 4 Deputadas e mais 4 Deputados.
Consultem por exemplo as listas dos diferentes partidos aquando das autárquicas em Felgueiras elas são elucidativas sobre quem pratica o quê.
Com os melhores cumprimentos

Sérgio Martins disse...

Não podia estar mais de acordo com o que disse, Dr. Pinho, o BE não precisou de quotas para colocar as pessoas no sítio que merecem, por mérito e competências próprias. Facto que reforça o meu argumento. A questão das quotas pode levar a graves distorções da democracia, agravando a qualidade, por exemplo e numa primeira fase de curto prazo, a composição do Parlamento. Veja por exemplo a dificuldade que o PS Felgueiras teve em obter o número de mulheres necessárias para formar duas listas. Concordo em absoluto com o princípio que as mulheres devem ocupar os lugares na política, reflectindo a composição sociológica da nossa população. Talvez assim as coisas fossem melhores
Abraço

Nardole disse...

Em Portugal as Mulheres representam:

- mais de metade da população: 51,68%

- mais de metade dos trabalhadores intelectuais e científicos: 54,8%

- quase metade (48,1%) dos trabalhadores técnicos intermédios

- mais de metade dos quadros técnicos superiores da administração central: 59,4%

- mais de metade dos estudantes universitários: 57,1%

- a maioria dos contribuintes

- um grupo consumidor responsável por 80% do volume de compras (por elas efectuadas e/ou decididas)

- uma força de trabalho não remunerado posta ao serviço da comunidade, cuja riqueza é estimada em cerca de 40% do PIB.

Mérito? O que não lhes falta é mérito, infelizmente numa sociedade extremamente paternalista como aquela em que vivemos impede as mulheres de chegar à politica.

"Quem garante que para cumprir a quota não são incluídas mulheres incompetentes nas listas, tirando um lugar a um homem competente, e no extremo, homossexual?" Desculpa lá mas o que não faltam são homens incompetentes. É estranho a incompetência ser usada como alerta na questão das quotas das mulheres na politica e essa mesma competência nunca ter sido posta em causa quando se colocam 8 homens nos 10 primeiros lugares de uma lista e depois só se põe 2 mulheres para a lista ficar mais equilibrada.

A questão é, existe uma grande falta de mulheres nos partidos. E isso deve-se à cultura paternalista em que estamos mergulhados, uma cultura que atira as mulheres para fora da politica e que as faz pensar que aquele não é o lugar delas. E é para combater isso, e para dizer às mulheres que são necessárias para o futuro de Portugal, que existem as quotas. E sim, deviam ser de 50%.

Sérgio Martins disse...

Mesmo com umas quotas de 50/50, se uma mulher, casada, com filhos não tiver em casa alguém culturalmente preparado, por mais mérito que tenha, não vai fazer parte de lista nenhuma. O problema é esse. Existem montes de homens incompetentes na política porque, também, as mulheres competentes ficam em casa.

Nardole disse...

lá está. Mas porque razão ficam as mulheres em casa e não os homens? Questão cultural!

Elas trabalham as mesmas horas que os homens no emprego e depois ainda têm outra jornada de trabalho em casa. Porque é que isto tem que ser assim?
Não tem. E qualquer passo que contrarie essa visão é bem recebido.

HQuintela disse...

Eu concordo inteiramente com o Bruno. As tarefas em casa devem ser partilhadas. E partilhadas até ao limite. E deixar espaço para que o casal possa participar se assim o entender activamente na vida em sociedade.