quarta-feira, outubro 8

Um (não) assunto *

Tinha prometido a mim mesmo que não voltaria ao (não) assunto, Escola Profissional de Felgueiras (EPF), a não ser quanto todo o processo de dissolução e consequente solução que a autarquia felgueirense encontrará estiver concluído. Disse, na altura em que o vereador socialista Bruno Carvalho resolveu criar uma petição pública contra o fecho da E.P.F. que despoletou o medo nos pais e alunos, a instabilidade no corpo docente, o “diz-que-disse” e todas as teorias da conspiração, que nunca os alunos e corpo docente seriam prejudicados. Apesar dos piores cenários previstos, traçados e até desejados por alguns para a E.P.F., esta viu as suas contas de 2012 e 2013 aprovadas em Assembleia Municipal, merecendo até um rasgado elogio socialista às contas de 2013, portanto “pós-crise” anunciada. A E.P.F. aumentou o número de alunos, tem um elevado padrão de ensino, os docentes e alunos continuam a receber prémios nas mais variadas áreas, e continua a ser a escola profissional de referência no vale do Sousa e Tâmega. Portanto, o grupo político municipal socialista reconhece que as catástrofes que previram para a E.P.F. não se verificaram.
Contudo, e é por esse motivo que volto ao tema, o grupo político municipal socialista entendeu propor à Assembleia Municipal uma Comissão Eventual da A.M. para acompanhar o processo de dissolução da E.P.F.. Ideia mais disparatada. Desde logo porque a proposta não assegurava a representatividade dos grupos políticos municipais na comissão eventual, mas mesmo ignorando tal facto, demonstrativo da democracia socialista, a ideia subjacente à comissão eventual não existe. Não há qualquer facto concreto, anormal ou de gravidade tal que justifique a constituição de tal comissão. O processo ainda não está concluído, estando a decorrer o prazo legal para a dissolução da sociedade que, repito, não se vislumbra prejudicial para os alunos, docentes e instituição. A existirem eventuais motivos, estes só seriam de verificar no final do processo. Pela intervenção da bancada socialista ficou patente a leitura política, intelectualmente básica, que do chumbo à criação da comissão eventual, se conclui, que a coligação PSD/PPM quer politizar o assunto E.P.F.
Ora, não há maior mentira em todo este processo. Quem é que trouxe à praça pública o tema E.P.F., apresentando-o como uma quase catástrofe em período pré-eleitoral? O PS e o seu vereador Bruno Carvalho. Quem é que, insistentemente, tem trazido à liça em momentos muito concretos, na assembleia municipal, o tema? O grupo político municipal do partido socialista. Das duas uma, ou há muitos interesses escondidos ou muitos favores a pagar. O PSD não alinha neste tipo de jogadas políticas com instituições que merecem respeito e credibilidade. Não faz uso de expedientes políticos com pessoas, instituições como o passado da gestão socialista do concelho nos habituou. Talvez por assim serem e o terem feito, acham sempre que todos os outros são iguais.
Mas eu percebo a tentativa do partido socialista, no dia a seguir às primárias que escolheram o candidato às eleições legislativas, de passar ao lado do assunto. É que não deve ser fácil eleger um candidato apenas porque será o menos mau dos dois, muito menos aquele que foi eleito sem uma única ideia básica que seja sobre como pretende governar e ainda menos que soluções “mágicas” tem. Não deve ser fácil para os socialistas verem com António Costa, que em alguns momentos afirmou que se cometeram erros na governação Sócrates, todos os principais cabeças de cartaz desse mal lembrado governo. Será, se vencerem as eleições, um claro regresso ao passado, ao despesismo, às engenhosas PPP’s, ao défice que o governo seguinte do PSD terá que corrigir. Aqueles que tiverem memória sabem que de todas as vezes em que necessitamos de ajuda financeira, que partido foi chamado a governar a equilibrar as contas e a reganhar o prestígio internacional? O PSD.
* Expresso de Felgueiras, Edição 146

domingo, junho 8

O outro lado da moeda *

O partido socialista foi o vencedor das eleições europeias para o Parlamento Europeu. Disso não há qualquer dúvida. Obteve mais 123.000 votos que a coligação Aliança Portugal (PPD/PSD e CDS/PP) o que corresponde a uma diferença de 3,75%. Mas por que razão o semblante dos socialistas na noite eleitoral não era de grande festa, como se esperava, e os sorrisos eram espartanos?
Apesar da coligação PSD/CDS ter perdido cerca de 517.000 votos em relação às Europeias de 2009, em que concorreram separadamente, - facto revelador da penalização que algum eleitorado quis infligir ao governo suportado pela coligação – o PS subiu apenas cerca de 86.000 votos em relação a 2009. Este facto, aliado à vitória “pouco expressiva”, para utilizar as mesmas palavras de alguns reputados militantes do PS nacional, muitos com responsabilidades políticas nos atuais órgãos do partido, mais do que justifica a falta de champanhe, sorrisos largos e palmadas nas costas habituais nas grandes vitórias. Era do conhecimento público que todo o PS precisava – e esperava – uma grande vitória para cimentar António José Seguro na liderança do PS e contra aquilo que este quis dizer na noite eleitoral como sendo uma “grande vitória” foi logo contrariado pelas vozes do seu próprio partido ainda nessa noite e ao longo do dia seguinte que vieram dizer que os resultados ficaram abaixo do que se esperava atendendo a todo o “desgaste” do governo. Por isso os socialistas estão agora em plena convulsão interna com a liderança a ser, mais uma vez, colocada em dúvida. Terá Seguro mais vidas para gastar?
Destas eleições resultaram vitórias extremamente preocupantes como aquelas que ocorreram em Inglaterra e França com partidos da extrema-direita, que subiu um pouco por toda a europa de uma forma generalizada. A história europeia já nos ensinou que de grandes crises económicas, com enorme desemprego e descontentamento popular, emergem este tipo de discursos extremistas. Não faltam por aí países a querer devolver os emigrantes aos seus países originários face ao desemprego que por lá também existe. Seja porque pretendem abrir os empregos aos nacionais, seja porque não pretendem continuar a pagar subsídios de desemprego, como no caso da Alemanha. Os sinais estão aí, e se a europa não conseguir resolver estas questões politicas teremos graves consequências. É que da última vez em que estivemos numa situação semelhante com partidos de extrema-direita a surgirem com esta força, irrompeu a II Guerra Mundial.
A abstenção foi a grande vencedora em toda a europa, e Portugal não foi exceção com cerca de dois terços dos eleitores a não votarem. Já em 2009 tinha acontecido quase o mesmo sendo a diferença de apenas 2,9%, o que demonstra que, de uma forma generalizada, a maioria dos eleitores portugueses – e já agora europeus - não se interessa pelas questões europeias e a falta de um verdadeiro debate sobre a europa também não ajuda.

Há quem queira fazer uma extrapolação dos resultados das eleições europeias para as legislativas e até mesmo para as autárquicas. Mas mesmo aí as coisas não correram bem para o partido socialista nacional e local. É que no dia das eleições europeias a TVI divulgou uma sondagem que dá um empate técnico entre o PSD e o PS se as eleições fossem legislativas o que quer dizer que o eleitorado sabe distinguir muito bem o que está em causa em cada eleição, ao contrário daquilo que muitos políticos acham. Por outro lado, a nível local, há sempre quem tente disfarçar o péssimo resultado autárquico com uma subida do PS que “quase vencia o PSD”. Só se esquecem de uma coisa, é que foi a primeira vez em que o PSD ganha em Felgueiras quando o PS ganha eleições nacionais e/ou europeias. Aquela ideia que Assis tentou vender em Felgueiras aquando da sua passagem por cá, durante a campanha, aos cerca de trinta apoiantes que o ouviam do cimo das escadas, de que este é um concelho socialista não é verdade. Os felgueirenses sabem distinguir agora que já conhecem o outro lado da moeda.
[Expresso de Felgueiras, 29 maio 2014]