José Sócrates não podia estar mais contente. Depois de obter a primeira maioria para o partido socialista com os votos do «centrão», consegue esvaziar completamente a oposição retirando-lhe as bandeiras habituais da direita e baralhar a esquerda. Uma governação que consegue passar ao lado de críticas e com episódios dignos de concorrer com as melhores «facadas a Santana Lopes».«A política... há muito tempo deixou de ser ciência do bom governo e, em vez disso, tornou-se arte da conquista e da conservação do poder»(Luciano Bianciardi, escritor)
Igual táctica desenha a nossa presidente da Autarquia. Retira toda e qualquer informação da praça pública, do debate político, esvazia de conteúdo todo e qualquer assunto – veja-se, a título de exemplo, o que aconteceu com a apresentação de contas de 2005 que serviu apenas para justificar o injustificável, a falta de obras até ao fim do mandato – e não nomeou, ainda, o assessor de imprensa, não há necessidade. Evita a todo o custo entrar em batalhas políticas, que provocam desgaste, levando apenas a reunião de câmara assuntos «pacíficos» de aprovação unânime. Sabe que os vereadores da oposição PSD não são adeptos da política espectáculo, e ainda bem, mas que não deixarão passar sem um chumbo, todas as medidas que o merecerem e por isso tenta «adormecer» a oposição. Mas o PSD pode fazer mais. Pode, e deve, marcar a agenda política, assumir definitivamente que é alternativa a este executivo fazendo uma oposição pela positiva, mostrando como se faz, por comparação com o que está mal feito, ou falta fazer, definir prioridades e áreas temáticas de acção, forçando o executivo a tomar posição.
Resta saber qual será o papel da restante oposição. Pela primeira vez desde o 25 de Abril, os socialistas não estão no executivo camarário (pelo menos os socialistas do Partido Socialista), e depois de um processo eleitoral interno, deverão esclarecer definitivamente a sua posição. Ou estão ao lado do executivo ou são oposição, contando porém, desde já, que os seus presidentes de junta, eleitos, votem ao lado do Movimento Sempre Presente. O BE, fortalecido com os votos obtidos, retirados a um PCP cada vez mais fragilizado, deverá hastear as bandeiras tradicionais a reboque de uma qualquer ofensiva nacional do partido. Quanto ao CDS, depois de ter perdido o apêndice PP, e do mau resultado obtido, amargura entre a extinção e o adormecimento. Mas como disse Napoleão Bonaparte «Nunca interrompas o teu inimigo enquanto estiver a cometer um erro»
* [Sérgio Martins in «Expresso de Felgueiras» 26 Maio 06]
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