quarta-feira, junho 2

Quem estraga velho, paga novo (*)

Durante anos ouvimos o ministro das Finanças e o primeiro-ministro, dizerem que esta crise não chegaria a Portugal. Era uma crise financeira, com origem na banca norte americana que nem sequer chegaria à Europa, quando, mesmo em 2008 se sabia que alguns dos bancos envolvidos na famosa crise dos subprimes, como ficou conhecida, eram europeus. Desde aí, o primeiro-ministro que colocava em grandes outdoors o anúncio que nunca ninguém tinha feito tanto pelo défice como ele, viu o mesmo atingir valores nunca vistos. Enquanto o resto da Europa colocava as suas economias em estado de alerta com a tomada de medidas junto da banca, e em termos de Orçamento, nós fizemos um completamente irrealista que, passados apenas três meses desde a sua entrada em vigor, tem que sofrer correcções porque pura e simplesmente partia de pressupostos (taxas de crescimento, preço do petróleo, etc.) errados. Para além disso, a teimosia desmedida de Sócrates relativamente às obras públicas, como o TGV, o novo aeroporto e a nova travessia sobre o Tejo, como único factor para o crescimento da economia, veio-se a revelar, como previsto, errado, face ao descalabro da banca nacional, (casos BPN, BPP e Millenium BCP), o brutal aumento da despesa pública devido a todos os subsídios (criando uma geração de “subsidiodependentes” a que se continua a apelidar de estado social), as SCUTS que sempre foram consideradas um erro por aquilo que iriam hipotecar no futuro os portugueses e que agora vai ser corrigido, criando novas injustiças locais e mais despesa pública, não deixou alternativa às agências de rating, essas malvadas que atribuíram ao nosso Estado uma mais baixa classificação, fazendo com que toda a nossa banca tenha que comprar o dinheiro mais caro. Isso aliado há já existente falta de liquidez da banca e o excesso de concentração dos financiamentos nas áreas de obras públicas, construção e imobiliário, não deixou dinheiro para a indústria, para a produção… que agora Sócrates pede que seja o motor da recuperação económica, através das exportações.
Em apenas quinze dias o nosso primeiro-ministro “viajou” entre o “não haverá aumento de impostos” na Assembleia da República, até ao “ter que aumentar os impostos porque o mundo mudou nos últimos quinze dias”! Se ainda não tinha reparado (parece que é dos poucos) o mundo já mudou desde 2008 e as medidas que deveriam ser tomadas ainda não o foram. Enquanto países como a Alemanha, Inglaterra e França, optam por reduzir na despesa dos seus ministérios, na despesa geral do Estado, por mais impopulares que possam ser tais medidas, nós ficamos pela metade pior, aumentamos na receita (leia-se: pagamos mais impostos). Definitivamente a teimosia e a incompetência deste governo deixam o país de pantanas. Espero é que, tal como no ditado popular que diz que “quem estraga velho, paga novo”, o governo não fuja às suas responsabilidades, até porque, crise política, só dá jeito lá para depois das presidenciais…
(*) Expresso de Felgueiras, 28 de Maio 2010

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