quinta-feira, março 11

Estão longe de conseguir (*)

O nosso primeiro-ministro não tem sorte nenhuma. Esteve quase com a guerra com a Madeira ganha quando uma tragédia daquela dimensão, com perdas de vidas humanas e cerca de mil milhões de euros de prejuízos materiais, lhe retirou todos os argumentos e, pior ainda, se vê forçado a enviar mais dinheiro para a Madeira. Pior do que isso é aquilo que, segundo ele, a comunicação social lhe anda a fazer com as sucessivas fugas de informação que vêm a acontecer dos processos onde está envolvido. Campanhas difamatórias e caluniosas diz ele, será verdade perguntamos todos nós perante o que tem vindo a público. E o que tem vindo o público não é muito agradável de se ver. Desde favorecimento através de nomeações para elevados cargos nas empresas públicas ou onde o Estado tem uma forte presença, de elementos do aparelho socialista, até favorecimento de pessoas/empresas, acabando nas tentativas de aniquilação ou condicionamento de órgãos de comunicação social e comentadores políticos como o célebre caso do Jornal da Noite de sexta-feira, de onde Manuela Moura Guedes foi afastada. Da tentativa de compra da própria TVI que vai, pela primeira vez na história, fazer com que um primeiro-ministro tenha que depor numa comissão parlamentar, acabando no caso Mário Crespo, que viu uma crónica sua censurada no JN.
José Sócrates percebeu que para ganhar eleições precisa da comunicação social (isto é igualmente importante em qualquer tipo de eleições) que neste momento lhe é bastante hostil e, já que não conseguimos condicionar os mesmos compramo-los.
Pensava eu que este tipo de fenómenos era mais usual em meios mais pequenos, em eleições autárquicas, nas freguesias. Mas aquilo que vemos a nível nacional hoje de uma forma descarada é a imagem de qualquer município no nosso Portugal. A comunicação social tem que ser “amiga” do executivo, isto é, tem que divulgar as coisas boas apenas, tem que tomar posições favoráveis aos executivos e munir-se de cronistas e opiniões favoráveis ao executivo. O pensamento próprio é muito mal tolerado mesmo por aqueles que nos são próximos politicamente. Todos sabem a minha orientação política e a minha militância de vinte anos (já são vinte anos!) no PSD, mas durante este período em que escrevo esta minha humilde crónica no Expresso de Felgueiras que vários dirigentes do PSD Felgueiras diziam aos directores do jornal que eu não representava a linha do partido, da direcção concelhia, só porque, aqui ou ali, discordei de posições tomadas. Claro que isto é uma forma de pressão sobre os jornais, sobre a sua capacidade de serem plurais. Tenho (julgo) todos os exemplares deste jornal guardados e, pegando em edições várias, vejo notícias favoráveis, desfavoráveis tal como as opiniões dos cronistas que aqui vão escrevendo. É uma risota despegada quando por vezes vemos as acusações que fazem. Escreve-se bem do executivo, quer tacho, escreve-se mal é porque está ressabiado porque não teve o tacho. Já houve tachos para todos nós no anterior e neste executivo, nenhum de nós, está ou esteve lá ou por lá pensou fazer “carreira” uma vez que todos temos percursos profissionais distintos. Outra situação, pior, é quando se tenta asfixiar – de várias maneiras – um projecto, de forma a que esse morra ou que se submeta a directrizes. Veja-se, por exemplo, o reconhecimento feito por Lemos Martins, numa entrevista ao EF, que o afastamento do anterior executivo da comunicação social de Felgueiras teve para o desgaste de Fátima Felgueiras contribuindo para a sua derrota nas eleições.
Mas não é apenas na comunicação social que este tipo de pressão se vê. Em alguns espaços de opinião própria, como são os blogs, existe essa pressão feita de uma forma encapotada e belicosa. Leitores anónimos despejam as suas dores (ou as de outros, quem sabe?) com insultos e baixaria grosseira. A liberdade de expressão passa a ser o equivalente a atribuir uma arma a todos os portugueses sem triagem e formação própria. Qualquer um, municiado de um teclado e um acesso à internet “mata”, insulta, denigre, sem nunca fazer prova do que diz. Objectivo? Fazer com que desistam de emitir opinião. Não sabem ainda, mas estão longe de conseguir…
(*) Expressso de Felgueiras, 5 de Março de 2010

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