terça-feira, janeiro 5

Gestão de Expectativas (*)

Gestão de expectativas é aquilo que é mais difícil de fazer para quem exerce o poder. Atentemos por breves instantes no já case study Obama. O presidente dos EUA, chegado ao poder fruto de uma forte esperança de mudança nos EUA quanto a questões como a guerra no Iraque e a economia com inúmeras dificuldades, neste momento continua com enormes problemas nesses sectores, tendo até enviado mais trinta mil soldados para o Afeganistão. Se fosse Bush a fazê-lo seria crucificado por toda a imprensa nacional e internacional. Mas Obama (que eu publicamente preferi como candidato) comunica de forma diferente, justifica perante a opinião pública e, melhor, escolhe o timming correcto para o fazer. Apesar de ter descido em termos de popularidade, não deixa de manter um bom score. Como justificar? Os “spin doctors” da Casa Branca fazem o trabalho de casa.
A nova maioria do executivo municipal, eleita da mesma forma – um forte desejo de mudança por parte dos felgueirenses -, está com alguns problemas de comunicação e o “estado de graça” que costuma ser mais longo está a encurtar. Para isso contribuem vários factores: a) O anuncio de medidas avulso, como uma auditoria às contas da autarquia que depois não tem consequência visível (é desconhecida na opinião pública se avança ou não), abrindo espaço para que a oposição tire, legitimamente, proveito da situação. b) a falta de uma mensagem política clara como forma de preparação do eleitorado para as promessas a cumprir já e calendarizar as outras, permitindo gerir as expectativas do mesmo blindando-o a intervenções da oposições que, face ao vazio, pode tirar as conclusões que quiser. c) as hesitações e novas posições face aos problemas que já se conheciam também não ajudam a que se mantenha o estado de graça.
O PS Felgueiras tem, legitimamente, tentado aproveitar ao máximo o espaço e a benesse que a maioria do executivo lhe tem deixado. Nem sempre da melhor forma, é certo – Eduardo Bragança tem uma agressividade no tom e discurso que o fazem perder junto do eleitorado – e a altura não é a melhor, uma vez que passam pouco mais de mês e meio das eleições e as críticas perdem-se no tempo. Por outro lado, mais positivo, toma a iniciativa de oposição à coligação PSD/CDS-PP sendo apenas o terceiro partido mais votado e sendo este apenas o único vereador do PS, relegando o MSP para um papel menor. Se a maioria do executivo não tomar as rédeas e marcar a agenda política em Felgueiras poderá ter uma grande dificuldade em ultrapassar determinadas questões, mais difíceis, que aí vêm.
A maioria do executivo precisa urgentemente de gerir melhor as expectativas dos munícipes e nunca perder aquilo que lhe deu a vitória: a proximidade às pessoas.
Ter opinião em Felgueiras é difícil. Aliás, por aquilo que me dizem é bastante difícil. Não senti ainda as dificuldades (ler pressões) de alguns companheiros desta aventura de tornarmos públicas as nossas opiniões quando muitos dos outros escondem e alteram as suas, conforme as conveniências, mas já passei por más situações que não vou aqui, para já, referir. Contudo, há algo que algumas pessoas têm que perceber. Vivemos num Estado de Direito, onde a liberdade de expressão existe. Não existe para ofender, denegrir ou usar em benefício próprio, mas para partilhar ideias, promover uma discussão sobre um ponto de vista ou chamar a atenção para um tema. Até aqui todos concordarão comigo, mas quando se trata de visar atitudes, decisões, posições ou a falta destas, de pessoas conhecidas, da nossa “família” política ou que nos “conhecem desde pequeninos” como gostam de dizer, aí é que está tudo mal. Sejam pessoas ou instituições, não aceitam a crítica que, no meu caso, terá sido sempre construtiva. E aí começam a acontecer casos que posso considerar “estranhos” sem que nunca possa acusar alguém de ter a minha liberdade de expressão condicionada – tal como não tenho – mas que tentaram, ai isso, tentaram.
(*) Expresso de Felgueiras, 18 Dezembro 2009

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