quinta-feira, setembro 4

Dança de cadeiras (*)

Fim de férias. Regresso a mais um ano (a mudança de “ano” é cada vez mais nas férias) de trabalho, aulas, e a tudo aquilo que nos espera fora da vida familiar. Mesmo o ano político é marcado pelas férias. São famosas as dos políticos que fazem capa de revistas cor-de-rosa, assim como aqueles mais comedidos nas aparições públicas mas que usam as férias para preparar a estratégia para o ano político seguinte. Mário Soares usava as suas para as grandes decisões políticas, incluindo as remodelações governamentais e as suas candidaturas.
Atendendo aos três actos eleitorais do próximo ano, os políticos deste país não devem ter passado muito tempo na praia, congeminando porém, em faustos almoços entre amigos políticos, a estratégia. Os jornalistas vão ter um ano em cheio. Com novidades políticas diárias, o difícil vai ser fazer passar a informação mais importante, o que faz a diferença, dificultando o trabalho às “centrais de comunicação”. A luta pelos minutos televisivos e pelas manchetes dos jornais vai ser titânica, deixando apenas espaço para os cabeças-de-cartaz.
O regresso dos trabalhos ao Parlamento irá, sem dúvida, trazer mais trabalho e intervenções políticas àqueles que nada fizeram durante o mandato decorrido. Pode estar em causa a permanência nas listas das próximas eleições e nenhum quererá arriscar, principalmente desde que os jornalistas resolveram tornar público o “trabalho” feito por alguns dos ilustres deputados da Nação.
Interessante seria, por cá, fazer o mesmo levantamento nas bancadas da nossa Assembleia Municipal. Contam-se pelos dedos de uma mão aqueles que fizeram intervenções na A.M. desde o início do mandato, dentro de cada bancada, não sei se por falta de jeito, se por não se quererem expor, seja o que for. Vemos membros de uma bancada (independentemente do partido político que representam) que não fazem uma única intervenção em vários mandatos consecutivos (!!) e muitos outros que nem sequer comparecem às reuniões de preparação das A.M. que os partidos pelos quais foram eleitos convocam. Por isso é que a grande maioria das vezes (salvo honrosas excepções) é que os debates são tão politicamente pobres. Esta pobreza de intervenções políticas não fica apenas confinada aos membros eleitos directamente, os presidentes das juntas de freguesia, com direito de participarem nas A.M., ou de se fazerem representar, deixam passar inúmeras oportunidades de fortalecerem a sua posição política, quer junto dos partidos pelos quais foram eleitos, mas principalmente junto dos seus fregueses, que os elegeram, pensando pelo contrario, que “quando menos ondas fizer, melhor”. Será de prever que mesmo numa bancada como a de uma Assembleia Municipal, haverá quem, no final de mandato “perca a cabeça” e faça uma ou duas intervenções mais arrojadas apenas para mostrar a quem de direito que está vivo, não adormeceu na cadeira e que está pronto para estrear no próximo mandato as novas instalações da A.M.. Sintomático, pois claro, do estado de coisas que por este Portugal fora se encontram. E depois ainda se admiram que os portugueses olhem com desconfiança para a política.
(*) Expresso de Felgueiras, 29 Agosto 2008

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