quinta-feira, julho 31

Uma “guerra” à minha porta (*)

Quando cheguei a casa e olhei para a televisão, vi imagens que me pareciam de mais um tiroteio numa qualquer cidade nos Estados Unidos, numa escola, onde alunos transtornados ou revoltados contra o “sistema” desatam a matar quem lhes aparece pela frente. Apanhado a meio da notícia, olhei com espanto para o arsenal de armas empunhado pelos atiradores o que reforçou a minha convicção de que seria nos EUA tal situação devido à facilidade com que as pessoas lá têm acesso a armas, algumas delas de guerra. Mas não, afinal o “combate urbano” que ali decorria era numa cidade portuguesa. Espanto maior o meu, que sabia da existência de armas ilegais em Portugal (para protecção pessoal como dizem os prevaricadores quando apanhados em posse das mesmas), mas tamanho arsenal, lembrando um filme de justiceiros que no meio da rua defendem o seu bairro contra tudo e contra todos, não me passaria pela cabeça.
Passado o episodio dezenas de vezes nas televisões, não faltaram as explicações sociológicas, políticas e também demagógicas, para o sucedido. Ouvi, claro, o Bloco de Esquerda, dizer que o problema está nas políticas sociais, da não integração das “minorias” (leia-se ciganos e negros) envolvidas nos confrontos, na marginalização constante. Portugal é, desde há muitos séculos, um país multicultural (para usar uma expressão do B.E.) e sempre convivemos de uma forma mais ou menos ordeira com raças e credos diferentes da maioria da população. Sempre que existem tensões sociais – como a que actualmente se vive com a economia, e o consequente desemprego – este tipo de situações atingem proporções que noutras alturas não atingiriam. É o velho ditado do “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão” a funcionar na perfeição.
Recordo, com alguma saudade, a minha participação enquanto “monitor” de xadrez num clube de jovens no Bairro João Paulo II, onde pelas suas características de “bairro social”, existe uma comunidade cigana. Aí, cheguei a ter, em conjunto com outros jovens, várias crianças ciganas a jogar xadrez. Nunca chegaram a ser federados como os outros jovens, mas depois das primeiras reacções estavam integrados no grupo. Pena foi que, por razões que nunca consegui entender, acabassem com o clube. Sou absolutamente contra bairros exclusivamente de negros, ciganos ou do que for, existindo cada vez menos, felizmente, em Portugal, recordando-me estes sempre dos guetos judeus.
Há também, segundo alguns, outro tipo de exclusão. Aquela que é feita pelo facto de emitirmos a nossa opinião. Quem é do contra, ou criticado, age de maneira a repreender, ou pelo menos condicionar o opinante. Desde os meus dezasseis anos que milito no PSD e sempre emiti a minha própria opinião livre de quaisquer condicionalismos ou “represálias”. Continuo sem as ter, (apesar de um lamentável e recente equivoco, prontamente resolvido). Tenho o prazer de lidar todos os dias com pessoas de orientações políticas antagónicas das minhas, sem que isso prejudique as relações de amizade ou de trabalho. Isso só demonstra que quando o debate é feito com elevação, correcção e baseado em factos, o respeito existe. É também sinal de que a Democracia, afinal, está a funcionar.
(*) Expresso de Felgueiras, 25 de Julho 2008

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