quinta-feira, novembro 8

Urbanidades (*)

Cada vez mais as cidades se tornam impessoais, frias, distantes. As novas construções são mais rectilíneas, fechadas para dentro, com cada vez menos janelas e de menor tamanho. Quase não há espaços verdes, com os edifícios pendurados nas ruas e avenidas, cada vez mais cheias e preenchidas totalmente por automóveis. Apesar do acréscimo da qualidade da construção em Portugal, a área do urbanismo tem sido relegada para um plano inferior. As câmaras municipais optam, a grande maioria, por olhar para o cofre vazio da autarquia e licenciar o maior número possível de fogos, sempre “dentro da Lei”, claro.
O concelho de Felgueiras não é também, neste caso, excepção. Num concelho com duas cidades e duas vilas, existem vários exemplos a corroborar a tese dos “atentados urbanísticos”, mas não é sobre estes que pretendo escrever. É sobre os outros, aqueles que ainda se podem evitar.
Felgueiras (a cidade) precisa de evitar uma centralização exclusiva daquele que tem sido o chamado “centro”: a Praça da República. Existem, praticamente na área urbana da cidade, quatro zonas distintas, “desocupadas” em termos de construção e que têm, ou estão em fase de desenvolvimento, Planos de Pormenor, a saber: as “Portas da Cidade”, os terrenos por detrás do hipermercado “Modelo”, os terrenos frente ao centro de transportes, e os ultimamente muito falados terrenos da Zona de Acolhimento Empresarial de Várzea (ZAEV). Alguns deles têm já planos de pormenor, destinados a organizar do ponto de vista urbanístico (devido à dimensão própria dos terrenos e do seu enquadramento no resto da cidade) outros apenas estudos prévios com o mesmo fim, sendo que os pormenores são desconhecidos, não se sabendo o volume de construção, o seu tipo, as actividades económicas aí permitidas e os espaços verdes contemplados. A autarquia pode, e deve, dar o exemplo em termos de descentralização, ao não concentrar todos os serviços na Praça da República, evitando os problemas de falta de estacionamento, transito caótico, munícipes a passar de um edifício para outro e os demais transtornos que já se verificam em todas as cidades que optaram por esse modelo urbanístico. As “novas” cidades estão a optar por múltiplos centros urbanos, onde o cidadão tem diferentes zonas da cidade para tratar de diferentes assuntos, suportadas por transportes e vias de fácil acesso e estacionamento.
Felgueiras tem ainda outra vantagem (se considerarmos a sua juventude uma vantagem) é que ainda está tudo por fazer. O que pode ser feito, pode ser bem feito. Felgueiras tem um rico património ao abandono com várias casas na zona histórica (zona velha seria o mais indicado), devolutas e com uma arquitectura única no Vale do Sousa, cuja recuperação deveria ser promovida. Felgueiras deveria fazer como outras cidades que oneraram o IMI para os prédios em degradação nos centros urbanos como forma de incentivar a recuperação urbanística. Já viram o que podia ser feito em ruas como a Rua Costa Guimarães, Rua Oliveira da Fonseca, Rua Francisco Sarmento Pimentel e na Avª Dr. Magalhães Lemos, apenas para falar nas principais. Já viram o que se pode fazer numa cidade, aproveitando a sua “ruralidade” e zonas históricas com os novos conceitos de urbanismo e desenvolvimento de cidades? Temos tudo para fazer um bom trabalho. Temos os técnicos principais da câmara municipal, com a consciência exacta do que é necessário fazer, tomara o poder político ter a mesma. O que não é possível é continuar assim. É que as auto-estradas têm dois sentidos, trazem, mas também levam muitos daqui.
(*) Expresso de Felgueiras, 26 de Outubro 2007

1 comentário:

CP disse...

Muito bem.