quarta-feira, março 14

Mulheres de Armas (1)

No dia em que escrevo esta crónica é celebrado o Dia Internacional da Mulher. Desta forma pretende-se destacar o papel especial, e essencial, da Mulher no seio da comunidade, da família e do Mundo. Estou plenamente convencido que este será o século da Mulher.
Não tem sido fácil o seu papel. Desde sempre afastada das decisões e das grandes questões, longe vão os tempos em que não lhes era reconhecido o simples direito a votar, a emitir opinião. O seu papel era apenas o de criar os filhos e a organização doméstica. Felizmente esse tempo já lá vai, pelo menos nas sociedades ocidentais.
Hoje em dia as Mulheres têm um papel fundamental na sociedade. Estão já representadas em todo o lado. Nos órgãos de gestão de grandes empresas e universidades, estão representadas no sector militar, judicial e político, por mérito próprio, daí que eu ache a questão das «quotas» políticas absolutamente ridícula para as Mulheres. Veja-se o caso de Hillary Clinton, candidata à presidência americana e de Ségolène Royal igualmente candidata à presidência francesa. As Mulheres começam a fazer valer, por mérito próprio, as suas capacidades, apetências, profissionalismo e capacidade de gestão única. São muito mais objectivas e práticas na resolução de problemas, são únicas na negociação, e muito melhores que nós homens, na área de vendas.
No campo das Mulheres há sem dúvida uma que marcou a minha vida. A minha avó materna. Foi mãe de seis filhos, cinco raparigas e um rapaz, e com elas atrás, depois de vendidos os bens na aldeia, rumou a Lisboa para apanhar o barco para Angola indo ter com o meu avô e filho mais velho que já lá estavam. Contava a minha avó que depois de chegadas a Lisboa e quando o funcionário verificava a documentação deu conta que faltavam as vacinas obrigatórias a quem viajava para aquelas paragens de África. Como o barco zarpava na madrugada seguinte, a possibilidade de vacinação estava fora de hipótese. Perante a possibilidade de não embarcar e ter que regressar à aldeia onde já nada tinha, a minha avó reclamou, reclamou, e pediu para falar com o superior hierárquico do funcionário que a atendia. Não conseguindo demover nenhum deles e já em desespero de causa, ameaçou: «se eu não embarcar juro-lhes que me atiro com as minhas cinco filhas abaixo da ponte». Funcionou, e lá apareceu uma enfermeira que vacinou a minha avó e as cinco filhas. Depois de uma vida feita em Angola com muito trabalho, um regresso precipitado fruto de um processo de descolonização atribulado, foi necessário começar do zero. E ela começou. Não virava a cara a luta nenhuma, sempre decidida sempre bem disposta. Nos últimos anos deliciei-me com as histórias que ela contava, horas a fio, mesmo que fosse a décima vez que as ouvia. Recordava os tempos de juventude em frente da família, adorava comemorar os aniversários com a família, que convidava toda para almoçar num restaurante. Gostava de ter os netos por perto. Quase todos os domingos lhe ligava, e tinha sempre uma palavra de conforto, demonstrava uma coragem e determinação incríveis. Nos meus momentos menos bons, ligava-lhe e ela transmitia-me uma segurança e força que mais ninguém conseguia fazer. Faleceu em Outubro passado com 96 anos. Oito dias antes da sua morte estive com ela e fez-me um último pedido. Realizei-o no dia em que morreu.
(1) Expresso de Felgueiras, 9 Mar'07

2 comentários:

Marta Rocha disse...

Só se pode ser Mulher mesmo nos dias de hoje se se tiver "armas".
Não sou feminista, sou pela igualdade. E neste ano europeu da igualdade de oportunidades, o governo não tomou nenhuma medida em prol da paridade... A grande luta das mulheres do nosso século vai ser efectivar a igualdade.

Com este instrumento das quotas, as mulheres deixam de ser vistas como pessoas válidas por aquilo que têm a acrescentar, mas como números. E isto entristece-me, porque me pugno pela meritocracia.

Marta Rocha disse...

Deixo apenas a sugestão de um blog recente, criado por uma amiga de "armas":

http://psdnofeminino.blogs.sapo.pt/