sexta-feira, setembro 30

A opinião de Miguel Carvalho, in VISÃO - 26-Setembro-05


"A distância que vai entre o mensalão e o saco azul não é assim tão grande. Uma paróquia pode ser o retrato de um País."
«Fatinha
Fátima voltou, imaculada. Dois anos depois da fuga quer, finalmente, colaborar com a Justiça. A Justiça, matrona, nem pestaneja. E dispõe-se logo a colaborar com ela. Palpita-me que não foi a coincidência de datas entre as eleições e o julgamento que fez regressar Fátima Felgueiras. De tão incensada pelo seu povo, de tanto se proclamar inocente e injustiçada, a dita senhora deve ter-se cansado de dois anos de veraneio no Brasil e do ambiente de corrupção que por lá vai. Uma mulher impoluta como ela se julga dá-se mal com tais cenários. Contudo, a distância que vai entre o mensalão e o saco azul não é assim tão grande. Uma paróquia pode ser o retrato de um País. Fátima, com o seu jeito de «Evita de fancaria», como um dia lhe chamou Francisco Assis, fugiu para o Brasil para não ser presa. Durante anos, havia distribuído chá, simpatia e subsídios por associações e instituições do concelho, com a bênção de padres e até de um bispo. Ganhou prestígio e influência. O PS idolatrou-a, Narciso e Jorge Coelho, pelo menos, devem estar lembrados. Ela, por seu lado, não falhava casamentos e funerais. A receita deu sucesso num concelho onde convivem carros de alta cilindrada, desemprego galopante e trabalho infantil. Ou seja, uma pequena metáfora de um certo Portugal. Junte-se a isto uma mudança de penteado, uma mulher carismática e temos novela. Uma garota de Ipanema perseguida, um povo revoltado e uma terra do interior, eis o argumento que muitas televisões não desdenhariam. Aliás, o tratamento destes casos em jeito de folhetim de celebridades dá audiências e crédito aos protagonistas. Realidade e ficção confundem-se cada vez mais. Avelino foi à Quinta, Fátima regressou numa quarta, a tempo de ser eleita antes de ser julgada.Os partidos que se demarquem de comportamentos como os da «Fatinha» ganham sempre, mesmo perdendo. Quando falamos de Fátima ou de Ferreira Torres, por exemplo, não estamos a falar de gente convictamente de esquerda ou de direita. Os partidos e as ideologias são, para este tipo de políticos, meros acessórios. São meios de chegar a qualquer lado. Há muitas Fátimas e Avelinos, mais refinados. Podem não fugir para o Brasil, mas ficam por cá com a mesma impunidade
*
E é assim que outros comentam os acontecimentos cá do burgo.
De facto há gente, que enquanto exerceu o poder desbaratou o nome do concelho.
Saíu ou fugiu, e o nome do concelho continuou a ser desbaratado.
Chegou e, vejam só a novidade, o nome do concelho continua a ser desbaratado.
É candidata e o nome do concelho continua a ser desbaratado em tudo quanto é notícia e comentário.
Se for eleita, para onde vaí este concelho?
Independentemente do que venha a ser decidido pelos Tribunais, dificilmente se apagará a péssima imagem já causada a Felgueiras (concelho).

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