sexta-feira, dezembro 27

Felgueiras está na moda

Nas últimas semanas Felgueiras tem estado presente em quase todos os órgãos de comunicação social. Mas não, não estamos em 2005 nem sequer 2007, estamos no final do ano de 2013, em que já não está à frente dos destinos políticos de Felgueiras o partido socialista, mas sim o partido social democrata, pelo que não há preocupações de que as notícias sejam negativas, ou pelo menos, que envolvam polémicas com pessoas.
Quer seja pelo calçado, pelos produtos agrícolas como o vinho e o kiwi, pelo pão-de-ló ou ainda pelos famosos bordados, Felgueiras é um concelho que vê agora reconhecido o seu valor. Felgueiras tem gente trabalhadora mas, acima de tudo, gente empreendedora, com capacidade para ter dado a volta, adaptar-se à mudança global do mundo dos negócios, da exportação e da moda. Souberam aportar valor aos seus produtos e criar as suas marcas e estilos ditando a moda mundial. Felgueiras é, neste momento e ao lado de Itália, o país do mundo que consegue colocar os seus produtos mais caros no mercado. Tudo isto, claro, é potenciado por uma autarquia que gosta de promover o concelho pelos melhores motivos, com os melhores exemplos, com estratégias próprias, com divulgação do concelho e dos seus produtos nos aeroportos nacionais, com certames como o dedicado ao pão-de-ló (que outros não queriam ver aberto ao país e ao mundo) com valorização das pessoas, do que há em Felgueiras. Mas não foi apenas por isso que Felgueiras apareceu na comunicação social nas últimas semanas, mas também pelas políticas sociais que a autarquia prometeu e continua a implementar e a ampliar, com os apoios às famílias, com particular incidência aos idosos e às crianças. Por mais uma fase do parque radical na zona desportiva terminada e mais um compromisso eleitoral cumprido.
Mas há mais boas notícias. Felgueiras, através do presidente de câmara, Inácio Ribeiro, exercerá a presidência da Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa (CIM-TS) cabendo também ao concelho de Felgueiras o lugar de Primeiro-Secretário. Nunca Felgueiras teve esta representação nos órgãos intermunicipais, nem mesmo quando ex-presidentes de câmara eram “idolatrados” com pés de barro. Sem dúvida que estamos todos de parabéns, o que não percebo é porque nem todos os felgueirenses estão contentes com estas notícias…
Tal como não percebo como determinadas pessoas tem a enorme dificuldade de perceber a decisão da câmara municipal, de afastar a sua sócia minoritária (1%) da gerência da empresa que detêm a Escola Profissional de Felgueiras. É que quando duas sócias perdem a confiança uma na outra, quando de forma reiterada uma delas toma posições contra a sócia maioritária, algumas delas alegadamente a roçar a ilegalidade, a gerir como se fosse única sócia, o desfecho não poderia ser outro que não este. É que esta conclusão e consequência é por demais evidente, mesmo para crianças de seis anos…
* Expresso de Felgueiras, 16 dezembro 2013

quarta-feira, dezembro 18

Que Estado Social?

«Os problemas económicos em Portugal são fáceis de explicar e a única coisa a fazer é apertar o cinto», Diário de Notícias 27 de maio de 1984 e "Anunciámos medidas de rigor e dissemos em que consistia a política de austeridade, dura mas necessária, para readquirirmos o controlo da situação financeira, reduzirmos os défices e nos pormos ao abrigo de humilhantes dependências exteriores, sem que o pais caminharia, necessariamente para a bancarrota e o desastre”. RTP, 1 de junho de 1984. Estas duas frases são de Mário Soares, primeiro-ministro de então, quando o FMI entrou porta adentro para uma assistência financeira sem precedentes. Então, tal como agora, a situação é fácil de explicar: o Estado gasta mais do que as receitas que gera e não tem dinheiro. Quando uma família se vê confrontada com uma quebra de rendimentos no seu agregado familiar fruto, por exemplo, do desemprego o que fazem de imediato? Vão rever o seu orçamento familiar e cortar onde podem cortar, começando sempre pelos gastos mais supérfluos, se não for suficiente começam a cortar em coisas mais importantes que começam a ter influência no dia-a-dia. O passo seguinte é perder toda a qualidade de vida… para tentar sobreviver.
O Estado está a colocar a grande maioria das famílias portuguesas na última fase da perda de qualidade de vida para tentar sobreviver. Mas será que se justifica? Esta é a terceira intervenção de ajuda financeira a Portugal desde o 25 de abril de 74 e não aprendemos nada. Mais ou menos de quinze em quinze anos temos cá ajuda externa a dizer o que devemos fazer e, grosso modo, é sempre o mesmo. Não podemos continuar a gastar o que gastamos em termos de despesa do estado. Não podemos continuar a ter empresas públicas com contas descontroladíssimas a pagar prémios aos funcionários para irem trabalhar! Comparecer ao trabalho é um dever dos funcionários e há milhares de portugueses que não se importavam de ocupar esses lugares sem receberem o prémio de “presença”. Será que eu devo contribuir com os meus impostos para pagar o desconto de 50% nas viagens feitas pelos familiares dos funcionários das empresas de transportes? São pequenos exemplos públicos dos milhares de outras situações que um “Estado Social” criou ao longo destes anos, causando a rutura financeira a que assistimos. Esse não é o Estado Social que defendo. O que defendo permite que os apoios cheguem a todos de igual forma, sem exceção. É aquele que permite um justo equilíbrio entre setor público e privado, em que duas reformas de quinze mil euros por mês não valem o mesmo de uma reforma de quatrocentos euros. Um trabalhador do setor do calçado trabalha uma vida inteira para ter uma reforma de quinhentos euros e um magistrado do Supremo com dez anos reforma-se com milhares de euros por mês? Não é isso que eu quero de um Estado Social. O magistrado deverá trabalhar o mesmo número de anos e reformar-se ao fim do tempo com regras de cálculo da sua reforma iguais aos dos restantes trabalhadores que, mesmo assim, ganharia muito mais.
O que está em causa é apenas e tão só o governo escolher entre ultrapassar esta fase e depois deixar tudo da mesma forma e daqui a quinze anos temos cá outra Troika qualquer, ou aproveitar e fazer uma verdadeira reforma do Estado garantindo maior justiça e melhor distribuição do “social” para todos. Os sacrifícios são muitos, são imensos, todos os portugueses são atingidos, uns mais outros menos. A pergunta que devemos fazer é se chegou a hora de fazermos isto pelo nosso país pelos nossos filhos e netos, ou nos fecharmos em defesa de interesses setoriais, muitas vezes de meia dúzia de pessoas, colocando em risco o futuro de todos.
Mário Soares, histórico socialista, e autor do “apertem o cinto”, apela agora diretamente à violência dos portugueses para com o governo e o Presidente da República. O que fez ele para evitar a situação em que chegamos enquanto primeiro-ministro e Presidente da República? Ou, isto é apenas o último folego?
* Expresso de Felgueiras, 25 novembro 2013